Eu fui desmatando
o pouco dos outros
que existia em minha vida.
Eu fui lhe deixando
ser muito mais
que eu em mim.
Eu fui assassinando
minha própria espécie
pra conservar você.
Eu fui dedicando
todo o meu canto...
todo o meu verso...
todo o meu ser...
Eu fui vendo teu barquinho
ancorar mais ao norte...
coração descalço, espinho,
e foi sangrando mais meu corte.
Eu fui chorando feito criança
quando perde o amigo imaginário.
Eu fui perdendo no imaginário,
o sentido de “amigo.”
Eu te coloquei
como peça principal do meu xadrez
e fui perdendo peões, cavalos,
torres, bispos, Rei.
Eis o fim do jogo?
O da vida real não,
apenas mais um xeque-mate
em meu coração.
Me resta agora
jogar sozinha,
amar sozinha...
O amor é uma espécie
que não entrará em extinção...
Porque eu te amo.
Raquel Amarante (2007)
P.S: Céus! Eu escrevi isso? O tempo vai mudando tudo... O que será que permanece intacto neste texto?...
"Na canção que vai ficando
já não vai ficando nada:
é menos do que o perfume
de uma rosa desfolhada"
Cecília Meireles
Poesia piegas?
ResponderExcluirEsta parte da sua composição faz-me lembrar a poesia do velhinho de Alegrete-RG, que não obstante estorvarem-lhe o caminho, ele passarinho caminhava: "Como é bom morrer de amor e continuar vivendo!"
"... Eis o fim do jogo?/ O da vida real não, apenas mais um/ xeque-mate em meu coração..."
Pergunta se algo permanece ou se tudo muda por obra do tempo? Difícil resposta, em verdade, mas de tempo em tempo, no translúcido e insondável tempo, nem efêmero ou eterno, uma poetisa confidenciará, surpreendentemente: "O amor é uma espécie que não entrará em extinção.../ Porque eu te amo."
Ah, aquela que pendura as roupas íntimas no varal, piegas...
(Sorriso grande no rosto)
ResponderExcluirQue sorte eu tenho de ter sua presença neste blog...
Poder achar outros caminhos em meio a suas reflexões..
Obrigada por trazer Quintana para cá.
Você e ele são muito bem vindos!!!
Não seja.
ResponderExcluirEu é que sou grato a ambos, ao poeta gaúcho alegretemente e a poetisa dos românticos montes claros por oferecerem os belos caminhos da poesia.