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Ensaio sobre a Raquel leitora



A leitura não saia de mim quando aprendi as primeiras letras. Lia cartazes, outdoors, placas, Kama Sutras, eu lia tudo... Os livros infantis me proporcionavam viagens profundas... Eu havia encontrado o lugar para onde deslocar minha ensandecida fantasia... E Freud, iria gostar de saber disso!
Foi bem pequena que conheci Roseana Murray, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes... Como é importante que os escritores não se esqueçam do público infantil! Eu gostava de livros, com gravuras, é claro! Sempre tive uma percepção bastante visual. Quem me conhece sabe...
Eu colecionava charges de jornais... Ninguém as entendia... Eu gargalhava sozinha, meus coleguinhas nada entendiam.... (“que louquinha”...). Li trocentas vezes Aventuras da  família Brasil de Luís Fernando Veríssimo. Super indico!
O primeiro livro que ganhei foi o Pequeno Príncipe, numa versão mais infantil que a original, A-do-rei... Só que tinha pouquíssimas páginas, e era, de fato, as imagens que proporcionavam a leitura...
Hoje, já não mais com os livros-figuras, já consigo imaginar suficientemente as imagens explícitas e implícitas que as palavras carregam...
Grandes autores já passaram pelas minhas mãos... Uhuu! É que o que fiz com eles é muito subjetivo... Muitos vagam dentro de mim... Mas dentro de mim, ainda há vagas... Lembro-me, nostalgicamente, dA morte do leiteiro, dA cartomante, das Fábulas Fabulosas, das crônicas de Rubem Alves, dos livros de Walcyr Carrasco, do humor de Millôr, de Veríssimo, Cacaso, Leminski... Nem Monteiro Lobato foi enjeitado... Fui conhecendo Drummond, Ana Maria Machado, Pedro Bandeira, Ganymédes José... Até chegar em titio Machado, como chamara entre amigos o Grande Machado de Assis! Hum... Existe uma Raquel antes e depois de Machado de Assis...
Confesso também que alguns ignorei: Castro Alves... Minha xará, primeira mulher da “Academia”: Rachel de Queiroz, os neoclassicistas e realistas-naturalistas e...
Já, Oswald Andrade, Manoel Bandeira, Álvares de Azevedo, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Rubem Braga, Fernando Pessoa, Cora Coralina, Pablo Neruda, José Saramago, todos caminham comigo, contra o vento, sem lenço e sem documento...
Ainda não concebi como “devia” alguns conterrâneos... Fernando Sabino, Adélia Prado... Quando conceber, aviso-lhes...
Duas mulheres fazem total diferença em minha noção literária: Cecília Meireles e Clarice Lispector... Uma é gênese, a outra, o apocalipse! Precisaria de outro post pra falar deste amor além do conjugal que tenho por elas...

Céus!!! Como pude me esquecer de Mário Quintana... Justo daquele que recitei em alto e bom som várias de sua poesias... Aquele que tem cheiro de poeta mineiro...
Não posso deixar de lembrar do meu gênero favorito, não, não é a poesia... É a metáfora... O mito... A fábula... Deixo meu carinho especial a Aristóteles e Platão, os pais; aos filósofos, os filhos; e aos escritores amados, Franz Kafka e Ignácio Loyola Brandão, dentre outros...
Será que vocês lembram que de sertão não gosto de falar... O que dizer de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego... Já disse que de sertão não gosto de falar... É demais pra mim...
Só não vou falar dos autores que estou lendo de uns 3 anos atrás pra cá, (Os estrangeiros, os contemporâneos, os de auto-ajuda...) a eles reservo um post especial.

Raquel Amarante N.

Comentários

  1. Leio embevecido seu gracioso ensaio...

    Raquel, permita-me aduzir, ou somente achar, mas em todo caso escrever, que este seu trabalho é uma fagueira expressão da sua arte em versiprosa.
    Um filósofo, não sei quem, mas citado por Machado de Assis, dizia que o "menino é o pai do homem". É tomado por uma sensação análoga que seu texto faz-me imaginar que 'uma vivaz e excêntrica menina leitora (oh! seus insensíveis coleguinhas!) é hoje a mãe de uma 'profícua' mulher e vivaz e profunda escritora.
    Não o suficiente, ainda agracia-nos com a possibilidade de lermos em seu ensaio, inventário - con-fi-dên-ci-as... - ou seja, em você, um pouco dos muitos e sempiternos autores que você leu e conheceu, ou melhor seria dizer, "que convivem contigo nos vagos do seu próprio ser/viver?"
    Melhor encurtar e encerrar este já prolixo e, oh céus!, tão piegas para um simples comentário. Antes, contudo, parabéns menina, que, se não "roubada livros", já os tornava um pouquinho seu, de si, a cada leitura de descoberta, criação e aventura de si mesma em sua sensibilidade pueril, e obrigado, por hoje fazê-la presente em nós seus leitores.

    P.S.I: Drummond... Quintana... Cecília Gênese?!... Clarice Apocalipse!?... e Machado de Assis, ah, o seu titio Machado... Com este muito cuidado menina, uma criança pode ser muito facilmente enfeitiçada por um irônico exímio "Bruxo do Cosme Velho". Todavia, pensando bem, nenhum perigo mais ele pode oferecer a uma menina que conhece o mistério, a magia e o antídoto das "fábulas fabulosas" da magia das palavras...

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  2. Pasmem!
    Seus comentários se superam a cada post....
    Vou citar um crítico literário de Clarice LIspector, que de alguma forma diz de suas palavras também...
    "Sua palavra enuncia o que oculta" Ormundo

    Mais uma vez encantada!
    Você carrega em sua palavra um purismo parnasiano, mas diferente dos outros... Repleto de emoção...

    VC é o(a) anfitri(ã)o deste blog, pois cada vez que me conecto a ele, sou recebida de forma incomensuravelmente agradável...

    Obrigada!!

    (Vou ficar refletindo tudo que escreveu...)

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  3. Raquel,
    Desta vez, eu vou aceitar as suas gentis considerações, sobretudo por advir de uma autora que cultiva uma singular idoneidade e fina gentileza poética em matéria de apreciações literárias.
    Pouco a dizer do teor parnasiano dos (meus) comentários, talvez seja fruto de uma repreensível ilusão dos seus olhos, entretanto, sobre a reflexão do crítico literário de Clarice Lispector, eu re-interpreto-a e deturpo-a pra melhor fazer acordo à minha natureza.
    Onde originalmente se lê "Sua palavra enuncia o que oculta", Ormundo; deve-se entender como: "Sua palavra enuncia inculta o que oculta", mais ou menos, bem menos, nesse sentido, e também nesse sentido, assinada por um (a) anônimo (a) Sujismundo. (...)

    P.S.II: Retornando ao seu texto, fica-me a curiosa imagem de "uma menina que, se não roubava livros", fazia deles o seu mundo de criança, real e imaginário, onde, como Drummond, a menina "descobria novas palavras e tornava outras mais belas..."

    Off: Em meio aos livros, onde ficavam as brincadeiras de casinha e as bonecas, ou não ficavam, em menina?

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  4. rsrsrsr
    Olha.. Minha infância foi recheada do lúdicO!
    Nem só de livros vive a mulher...
    Aliás, nem li/leio tanto assim...
    Tinha uma amiga que, segundo ela, (rs) lia mais de 200 livros por ano.

    "Anônimo sujismundo"...rsrs
    Não sei porque eu insisto em te elogiar... Você não concebe seu brilhantismo!

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  5. "Nem só de livros vive a mulher..."
    Esta sua frase me faz lembrar de um tal verso, em qual música de Rita Lee: ... !

    Diga-me se hoje a sua amiguinha dos 200 livros anuais também faz um, dois ou até mesmo, duzentos, poemas?!

    Te peço que não interrompa seus elogios a um anônimo, pois esta suposta modéstia é apenas sestro, e os seus elogios ajudam-no a se distrair. (rs).

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  6. Peraíii
    Qual música da Rita? Será que é a que estou pensando...
    **Ahh.. E minha amiga... Escreve sim... E divinamente bem...
    Ahh... KKKKKK
    Claro, Sr(a) modéstia!

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  7. Sobre a pretensa música de Rita Lee, deu-me um branco, não consigo em absoluto atinar-lhe o nome, mas, se eu lhe dizer, acho que posso lhe deixar em 'choque', sobretudo tingida de cor "cor-de-rosa choque", por isso que não digo, nem sequer pra tentar arriscar o provável nome.

    Peço, não suspenda a medicação dos elogios ao seu anônimo leitor, pois sem eles o seu anônimo tende a ficar sempre em leito por causa do sestro. Diagnóstico: Todo modéstia será molestada.

    Diga-me então se os poemas da tua amiga se são hoje divinamente recomendados. Ela tem blogger?

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  8. Teus 21 anos não cabem dentro se sí!
    Tantos livros, tantas idéias...
    Quando acho que já te esquadrinhei...
    Voilà!
    Sai outro coelho de dentro da sua cartola!
    E pelo que deu pra perceber ela é bem funda...
    E o coelho é o de Alice...
    Feliz Desaniversário!

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  9. Olha, ela não escreve poemas, mas escreve muito bem outros gêneros...
    Não suspenderei elogios porque eles provém da mais sincera admiração... E vc sempre consegue atingí-la..

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  10. KKKKKKKKKKKK
    Feliz Desaniversário!rsrsrrsrrsrs
    Adorei Flávio!
    Engraçado que às vezes me vejo com Alice mesmo, mas no país da corrupção...
    Vc é um amor Flávio. Brigada..

    ResponderExcluir
  11. Amiga Raquel,
    Revolvo esta antiga "peça" há muito já retirada do varal e agasalhada ciosamente no guarda-roupa ou baú da memória, não obstante longo tempo, ainda conserva o cheiro e frescor de roupa enxuta retirada a pouco de sob o sol dos primeiros dias. E retiro-a justamente pela evasiva lembrança que me suscita em sua matéria, a de uma criança se iniciando na lúdica lição da leitura, pela qual, inicialmente, com a vivacidade primordial e, em seguida, com a seriedade advinda com o tempo da lide das letras, irá fazer a sua vida criando histórias e descobrindo mundos no mistério da vida.
    Vida esta que proporciona tantos mistérios, mistérios estes que são a própria vida e vice-versa!
    E que esta vida, em especial nesta à sua própria, seja iluminada pela graça do Deus criança que nasce no natal e que tem por sonho viver cada novo dia e por esperança renascer todos os dias do ano nos corações das gentes possa continuar a abençoar a leitora Raquel menina nas aventuras da bem-aventurança dos seus sonhos e pensamentos, leituras e palavras.

    Feliz Natal, querida Raquel, por toda à sua vida além blog.

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  12. Oi amiga!
    Eu que andava perdida, e ainda ando... Sempre recebo tais comentários seus com total apreço e leio e releio e agradeço!!
    Obrigada pelo prazer das suas visitas e pelas palavras as quais me presenteia...
    Aprendi muito contigo no ano de 2011...

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