eu que na distancia me projeto
aceno no espelho diferença
eu que me despi de toda crença
fiz da entranha o mundo predileto.
eu que nunca fui de olhar pro lado
em tudo que vivi fui tão discreto
eu que me embebi de todo o resto
e escandalizei paredes do tablado
eu que machuquei o lado machucado (da vida)
por azar ou por necessidade
de deixar escorrer alguma verdade
de me despedir de alguma dor (comprimida)
eu que vi nascer no corpo - uma atitude
uma opção pelo anseio ser mulher
eu que ainda não sei qual é que é
o traço, o risco, o caminhar desta virtude
eu que me mantive aprisionada
numa prisão tão livre e sem celas
eu que não compreendi – nunca! Elas...
mas que sempre fui, assim, uma aliada
eu que aqui estou só de passagem
que nunca avistei onde ancorar
ando tão assim, sem bagagem
levo coração que é pra amar...
(mas às vezes eu esqueço onde ele está!)
(Raquel Amarante)
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