A loucura é um caminhar no escuro, e quem caminha no escuro perde a luz que clareia os olhos, mas não perde a visão. Pior que perder a visão, é tê-la em abundância no escuro, instaura-se o mal-estar de enxergar o que não se quer ver, a cor da onipresente ausência. Antes fechar os olhos de súbito e refugiar-se na clareira imaginária de dentro, ou mesmo, entrever o pensamento de um escuro mais ameno, mais familiar, o escuro recôndito de todo ser. O escuro de fora é aturdido, rechaçado, totalmente isento de luz. É este o escuro pai imaginário do medo infantil. É este o escuro tido por descaminho, malquisto pelos “cavaleiros da luz”. É este escuro o lugar da procura, do tatear paredes em busca do apagador que acenda o sentido, tão mais desejado que a vida! Quem anda no escuro sabe mais do que nunca que não se vai adiante no fundo negro sem fantasiar o caminho, sem precisar de apoios, sem “trombar” nos móveis e monstros. Vencidos os primeiros estranhamentos do escuro, refratário de c...