Leia esta poesia ouvindo: Creep - Karen Souza
Da última vez eram 43...
Não sei dizer se passaram dias, meses ou anos...
Parei de contar.
Parei de calcular.
Parei de especular.
Começo a examinar.
Levo pro chuveiro, apertada ao peito, a sacola de planos.
Ou seriam sonhos?
Medonhos?
Tristonhos?
Risonhos?
Agora enfadonhos!
No fundo, bem no fundo, há um girassol amarelo.
Era pra ser rosa!
Era pra ser bossa!
Era pra ser fossa!
Era pra ser joça!
Era pra ser troça!
Era pra ser prosa!
A velha sacola se desmancha, pano podre,
Esvai-se entre meus dedos:
Desfaz-se um sonho inteiro...
Despencam os ponteiros...
Agora é pesadelo:
A tinta pra cabelo,
O ralo, o chuveiro!
Olho atordoada para o rio
em tom castanho 4.3.
Arrasta os fragmentos
Da sacola, dos lamentos,
E também dos tais momentos...
Pois que sim, houve momentos,
Uns de contentamentos,
Mais de constrangimentos.
Eu crio cegamente no mundo cartesiano.
Ilusão de ótica!
Ilusão de ética!
Ilusão caótica!
Ilusão patética!
Ilusão compartimentada!
Na tão preciosa sacola
O mundo era plano,
Redondo o sonho,
Fugaz o direito,
Servil o dever.
Percebo a contragosto, nada estava organizado.
Não há perfeição,
Nem compartimentos,
Não há rimas,
Nem contrapontos,
Não há ritmo!
Entre tufos de cabelos tintos em marrom perfeito,
Marrom 4.3 – Chocolate profundo,
Avisto o girassol, em amarelo profuso,
Contraste combinado à cor que engana o mundo.
O girassol sussurra, depois fala, depois grita:
“A vida é essa inquietude,
Essas incertezas, essa mistura de tudo...
Dos sonhos e dos planos,
Do querer, do desistir,
Do ser e do devir.
É esse infinito de horas
Que a tinta nos teus cabelos
Esconde do mundo inteiro,
Mas, não da tua alma.”
“Que desperdício!”,
Penso,
Enquanto morrem os contrastes,
Enquanto a chuva de água e de lágrimas
Cai, torrencialmente, sobre tudo...
Enquanto isto, penso, sobretudo,
Nas canções que não vou tocar,
Nos livros que não vou ler,
Nas bocas que não vou beijar,
Nas flores que não vou ver,
Nas chuvas que não vou tomar,
Nos amores que não vou ter,
Nas coisas que não vou realizar,
Penso, sobretudo, sobre tudo.
Da última vez eram 43...
Não sei dizer se passaram dias, meses ou anos...
Carrego pro chuveiro, apertada ao peito, a sacola de planos.
No fundo, bem no fundo, há um girassol amarelo.
A velha sacola se desmancha, podre pano, olho atordoada para o rio de tom castanho.
Eu crio cegamente no mundo cartesiano.
Na tão preciosa sacola percebo a contragosto, nada estava organizado.
Entre tufos de cabelo tintos em marrom perfeito, o girassol sussurra, depois fala, depois grita:
“Que desperdício!”
P.S: Terei o prazer de postar algumas poesias de minha amiga Mara Medeiros, a começar com esta linda descrita acima. Clique em seu nome e saiba mais sobre ela.
É um prazer muito grande postar algumas das obras primas de Mara Medeiros aqui... =)
ResponderExcluirboa amostra,
ResponderExcluirbeijo
gostei bastante.... e eu parei de contar nos 52...
ResponderExcluirbjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
Raquel, que lindo! As palavras dela nos embalam de tal maneira que ao terminar temos vontade de reiniciar para sentir todo o encanto.
ResponderExcluirAcho que passamos a vida com medo de que ela passe por nós sem a sentimos, por isso a necessidade sempre de ter coisas grandiosas!!!
Bjokitas pra ti ;)
Mara! Viajei legal...
ResponderExcluirOi querida
ResponderExcluirLindo!
Beijos e um final de semana maravilhoso.
Ani
Bem legal esses versos da Mara!
ResponderExcluirUma delicia te ler...
ResponderExcluirBeijos!
AL
Apertada ao peito, a sacola de planos - "a bolsa da vida"...- , e no banheiro, e no chuveiro, a água do tempo a escorrer pelo corpo inteiro, a banhá-lo, a lavá-lo e, a levá-lo. Água que toca e molha e inunda, e seca, e lava e leva... -será a alma também lavada? - e ao ralo se dirige, se une, se perde! Afinal, da sacola, do girassol, dos sonhos, dos planos, da tinta Marrom 4.3 e das ilusões cardio-cartesianas... "Que Desperdício!"
ResponderExcluirPois bem, poetisa Raquel, a sacola se desfazendo molhada no banheiro abriu-se, explícita, à nossa pequena contemplação e mostrou-nos tanto, de planos e sonhos, de lições e (i)realizações, e no entanto, ainda que se desfazendo em seu labor de se fazer, implícita ela escorre pra dentro da gente em seu ritmo, prosa e verso, algo mais, que a gente não explica (seriam só sonhos e ilusões?), mas apenas sente e dessente inundando o ser da gente.
Feliz ideia em publicar algo tão bom que engrandece ainda mais os seus varais, parabéns as duas talentosas poetisas.
P.S.: Saibam e vejam homens impacientes, o porquê de uma mulher demorar tanto em se banhar e se preparar, é que no banheiro uma mulher faz, também, em se poetizar.
Fiquei sem fôlego.Poema de releituras obrigatórias.Bjosss...
ResponderExcluirque bela escolha!
ResponderExcluirno meio de tantas coisas consigo observar coisas tão pequenas que as vezes nos passam despercebidas ....
Beijos bom domingo !
lindo né Meire...
ResponderExcluirrsrsrsrs.. Adorei amiga anônima... Ou melhor, amiga A.. Ou melhor ainda... Cria um pseudônimo p eu te mensionar por ele...
ResponderExcluirEita Dani.. Brigada! Bjim
ResponderExcluirMinha vida é um inquietação boa,
ResponderExcluirE sobre a contagem, só conto sorrisos,
Um beijo
Realmente é linda a poesia dela
ResponderExcluirBeijos Raquel!
Querida amiga
ResponderExcluirO tempo
é assim.
Passa rápido.
Só nos resta
viver
cada segundo,
minuto,
ano...
com a intensidade
dos primeiros
dias de vida.
Parabéns a ti
e a tua amiga.
Que os sonhos te envolvam
a vida, sempre...